terça-feira, 13 de outubro de 2009

Poema


As coisas mais simples, ouço-as no intervalo do vento, quando um simples bater de chuva nos vidros rompe o silêncio da noite, e o seu ritmo se sobrepõe ao das palavras. Por vezes, é uma voz cansada que repete incansavelmente o que a noite ensina a quem a vive; de outras vezes, corre, apressada, atropelando sentidos e frases como se quisesse chegar ao fim, mais depressa do que a madrugada. São coisas simples como a areia que se apanha, e escorre por entre os dedos enquanto os olhos procuram uma linha nítida no horizonte; ou são ascoisas que subitamente lembramos, quando o sol emerge num breve rasgão de nuvem. Estas são as coisas que passam, quando o vento fica; e são elas que tentamos lembrar,como se as tivéssemos ouvido, e o ruído da chuva nos vidros não tivesse apagado a sua voz.


(Nuno Júdice)

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