sexta-feira, 30 de abril de 2010

Salão









A vida em mechas que se desmancham
Pulso firme do vento que sopra 
Quase cinzas, em peripécias outonais
Um perfume que chega
Como ondas batendo no cais

terça-feira, 27 de abril de 2010

Por outros motivos

Todos os domingos a velhinha ia para a igreja. Sentava-se no primeiro banco e ficava ali, imóvel olhando para o púlpito.

Primeiro vinha o louvor, todos empolgados cantando canções religiosas, mas a velhinha nem abria a boca.

O pastor lia a bíblia e explicava o que havia lido. A senhora continuava sentada na mesma posição.Olhava para o pastor, firme, sem desviar o olhar.

Quando acabava o culto o pastor tinha o hábito de cumprimentar os visitantes da igreja, mas a velhinha sempre saia antes e nunca dava tempo de cumprimentá-la.

E assim seguiram-se os meses, ninguém conhecia aquela senhora, mas ela não faltava um domingo sequer e sempre saía antes dos cumprimentos.

O pastor intrigado, aproveitou um dia que tinha um convidado para falar e prostou-se na saída da igreja, queria saber quem era aquela senhora e por que motivos ela nunca se manifestava.

Quando ela saiu ele correu e pegou em sua mão e lhe disse:

-Obrigado pela sua visita, vejo que a senhora vem todos os domingos mas nunca tive o prazer de conhecê-la...

A velhinha respondeu:

- Venho aqui  porque o senhor é parecido com meu finado marido, enquanto  fala eu  fico recordando nossos momentos juntos.

O pastor calou-se, deu um abraço generoso naquela senhora e disse que ela sempre seria bem vinda naquele templo.

Ela continuou indo na igreja  por vários anos, sentando no banco da frente e ouvindo a pregação sem pestanejar , mas daquele dia em diante passou a esperar pelos cumprimentos de todos os irmãos.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Como se fosse hoje



Um perfume ainda sinto no ar. É como se ainda estivesse aqui.Meu coração vibra ao pensar na primavera, tão cheia de flores, tão cheia de amores.

Cada parte do meu corpo sente a presença mágica das gotas de orvalho. Uma sensação de paz e liberdade inunda meu ser.

Como se o tempo não tivesse passado. Como se os jardins ainda estivessem floridos. Tudo continua como era no meu coração. Só eu não sou mais a mesma. Descobri que posso amar a primavera em todas as outras estações. Tudo depende do quanto ela está em mim.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

No correio

Tarde de sexta-feira, um sedex de última hora me leva para a fila do correio. Muita gente esperando atendimento, ao lado um caixa exclusivo para gestantes, deficientes e idosos.

Observo as pessoas que ali esperam, enquanto meu tempo vai ficando perdido naqueles minutos. A fila não anda, um menino à  minha frente tira um monte de envelopes da pasta. "É hoje", pensei.

Um pouco mais de atenção ao caixa exclusivo e observo uma moça, não tinha mais que 20 anos, magra, nenhuma deficiência aparente.

Indignada perguntei ao caixa porque ela estava na fila preferencial enquanto uma multidão ficava esperando sua vez no caixa comum.

O rapaz  não soube informar, então eu mesma fui perguntar a ela o que ela fazia ali. Na maior cara de pau a moça tirou de dentro da bolsa um resultado de gravidez onde se lia: Positivo.

Não acreditei no que vi e se não estivesse tão apressada  e irritada teria caido na risada. Resignada voltei para a fila e aguardei em silêncio a minha vez.

Nada mais a dizer, definitivamente não era meu dia...

terça-feira, 13 de abril de 2010

Precioso 2
















Se alegra o coração

para receber o amor

com coroa e túnica

tão precioso

Jóia única

Dia

O sol brilha lá fora
aqui dentro quente

Pássaros cantam ao longe
em meu peito, melodia

Flores que crescem
florindo minha alma

Saudade que não passa
presença em meu coração

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Nonsense

-Onde?
-Não sei

-Porque?
-Eu quero.

-Hoje?
-Não, pode ser amanhã.

-Sobre o quê?
-Ainda vou pensar.

- Desde quando?
- Desde sempre.

- Para onde?
- Além do horizonte.
Acho que hoje tomei pouco café...


sexta-feira, 9 de abril de 2010

Um dia díficil














Jaqueline entrou no ônibus já estressada. O dia tinha sido díficil. Uma cliente no fim da tarde lhe tirou os ânimos. Como a mulher reclamava.

Sem muito pensar Jaqueline sentou-se no único banco que estava vazio naquele ônibus lotado. Ia tranquila, até que de repente o rapaz do lado começou a querer agarrá-la. Sentiu o cheiro de álcool. Ele estava embriagado, com certeza.

Desceu no primeiro ponto que apareceu e terminou o resto do trajeto a pé, mas não sem antes prometer a si mesma que jamais sentaria de novo  no único banco vazio que encontrasse num ônibus lotado.

quinta-feira, 1 de abril de 2010